À hora ou há ora?
À hora ou há ora? - perguntou o professor, manhoso, como se os agás e os acentos, agudos ou graves, fossem visíveis nas conversas. - Há ora - respondeu o aluno, mais convencido era impossível. - Há ora?!... - exaltou-se o professor - Há ora?!?!... - ameaçou o professor, atabalhoando pontos de interrogação e de espantação e perdigotando reticências. - Há ora, mestre - perseverou o aluno, humilde porém seguro. - Há ora, mas e além disso...
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quarta-feira, 2 de abril de 2025
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
O ânus da prova
Concelhos de mãe
Cátia Soraia entrou na universidade e, mal se instalou, mandou uma mensagem à mãe a pedir um concelho. A mãe, que é rica e boa alma, enviou-lhe Freixo de Espada à Cinta.
Eu, por exemplo, digo doénte em vez de doênte. Digo concelho e conselho em vez de conçalho e consalho. Digo mãe em vez de máim. Digo meio quando é meio e não maio. Digo têlha quando é telha e não talha. Digo coêlho quando é coelho e não coalho. Digo cóio em vez de côio. Digo câno em fez de cáno. Digo frónha em vez de frônha. Digo cachicha em vez de caxixa. Digo ferraménta em vez de pénis. Quer-se dizer: digo como era costume dizer-se na terrinha. Sou de Fafe, com muito gosto. Falo à Fafe como se nunca tivesse saído definitivamente de lá, e foi há mais de quarenta anos. Sempre que posso, falo a língua a que gosto de chamar fafês. Resultado: chamam-me parolo, labrego, matarruano, riem-se de mim.
Já o outro, urbanita de grande metrópole, frequentador de mundo e telejornais, ajeita delicadamente os botões de punho de dezoito quilates, afaga a gravata hermès sofisticada e cara, faz biquinho com os lábios suspeitos e diz, finíssimo porém acutilante, ânus da prova. Ânus da prova, é o que ele diz! Ânus da prova para aqui, ânus da prova para ali, enche a boca de ânus da prova! E chamam-lhe ó-doutor, jurista, comentador, especialista em molduras penais. E ninguém se ri.
Já o outro, urbanita de grande metrópole, frequentador de mundo e telejornais, ajeita delicadamente os botões de punho de dezoito quilates, afaga a gravata hermès sofisticada e cara, faz biquinho com os lábios suspeitos e diz, finíssimo porém acutilante, ânus da prova. Ânus da prova, é o que ele diz! Ânus da prova para aqui, ânus da prova para ali, enche a boca de ânus da prova! E chamam-lhe ó-doutor, jurista, comentador, especialista em molduras penais. E ninguém se ri.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
Entre o coçamos e o coça-mos
É erro comum e de palmatória: escrever entrega-mos, devolve-mos, envia-mos ou compra-mos, quando na verdade o que se quer escrever e dizer é entregamos, devolvemos, enviamos ou compramos. Erro comum porque o vejo por aí todos os dias, ainda hoje vi, e de palmatória porque é grave e aliás frequentemente pejorativo. "(Nós) entregamos", primeira pessoa do plural do presente do indicativo da forma regular do verbo entregar, não é o mesmo que "(tu) entrega-mos (a mim)", segunda pessoa do singular do imperativo do verbo entregar conjugado pronominalmente, ocorrendo neste caso a contracção de dois pronomes - "me" + "os", resultando em "mos".
As duas flexões coexistem, mas, apesar de próximas na grafia, não se equivalem. Por outro lado, distinguem-se claramente pela pronúncia, até porque, regra geral, nestes casos a sílaba tónica é diferente.
O problema é que as pessoas não sabem escrever sobretudo porque não sabem ler. Se soubessem ler, então também saberiam que, por exemplo, dizer ou escrever agarramos, chupamos, lambemos, mordemos, arregaçamos, aquecemos ou coçamos, vá lá, é uma coisa. Outra coisa bem diferente será dizer ou escrever, como tanto se usava em Fafe, agarra-mos, chupa-mos, lambe-mos, morde-mos, arregaça-mos, aquece-mos ou coça-mos, vá lá...
As duas flexões coexistem, mas, apesar de próximas na grafia, não se equivalem. Por outro lado, distinguem-se claramente pela pronúncia, até porque, regra geral, nestes casos a sílaba tónica é diferente.
O problema é que as pessoas não sabem escrever sobretudo porque não sabem ler. Se soubessem ler, então também saberiam que, por exemplo, dizer ou escrever agarramos, chupamos, lambemos, mordemos, arregaçamos, aquecemos ou coçamos, vá lá, é uma coisa. Outra coisa bem diferente será dizer ou escrever, como tanto se usava em Fafe, agarra-mos, chupa-mos, lambe-mos, morde-mos, arregaça-mos, aquece-mos ou coça-mos, vá lá...
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