sábado, 1 de março de 2025

O Alto das Freiras e outros pecados velhos

Fafe e os seus exageros
Fafe é uma redundância. Porque se Fafe fosse Faf, já estava tudo dito, e com três letrinhas apenas.

Chamava-se Alto das Freiras e não Monte das Freiras, como alguns lhe chamam hoje em dia, ou Monte das Freitas, como também já por aí li, Deus lhes perdoe a ignorância e o atrevimento, mas antes Freitas do que Serafão, também como quem vai para a Póvoa de Lanhoso. Isto não é resolvido por decreto, apetecimento ou alvará camarário - os sítios têm o nome que o povo lhes chama, e mais nada. E Alto das Freiras era o que o povo chamava àquele sítio lá em cima no antigo monte de São Jorge. Exactamente, quando era monte, isto é, antes de ser capado e dado como desaparecido, o monte ali existente chamava-se monte de São Jorge, e na crucha do falecido monte de São Jorge é que dominava o Alto das Freiras e era no Alto das Freiras que se acoplava o famoso pionono, quer-se dizer, a garrafinha.
Agora, Alto das Freiras porquê, isso é que eu já não sei. E não é que não me lembre, que se calhar me tenha esquecido, não, na verdade nunca soube, nunca fiz nem faço a mais pequena ideia. Cheguei a imaginar que era dali que saíam as irmãzinhas que tomavam conta do Hospital in illo tempore, incluindo a "Mamer", a primeira dona daquilo tudo, ainda hoje suspeito que sim, mas nunca ninguém mo confirmou capazmente nem alguma vez vi documento que o garantisse, e portanto continuo neste impasse. Em todo o caso, um sítio assim chamado Alto das Freiras, e ainda por cima com pionono e garrafinha, punha-me a cabeça às voltas. Eu sempre fui um bocado tolo e, confesso, bastante dado a elucubrações amiúde lúbricas e libidinosas, desculpem-me a expressão, porque ele há palavras que realmente nos levam por maus caminhos, e "elucubração", "lúbrica" e "libidinosa" são dessas tais, sugestivas até mais não, gráficas como nem era preciso, palavras estuporadas, descaradas e fonéticas, das que dizem logo ao que vão, xô diabo vem cá toma!
Que se segue. O busílis nem estava bem no alto das freiras, que, no entanto, por si só, bem trabalhadinho, já daria pano para mangas. O problema era meter na mesma frase, no mesmo pensamento, as palavras freiras, alto, pionono e garrafinha. E agora dizem que também tem mamoas. Estão a ver o filme? Estão a ver onde é que ia parar a minha cabeça-de-alho-chocho?
Ademais, a fama do monte andava pelas ruas da amarguras. Ou pelas alamedas dos prazeres, consoante o ponto de vista. Naquele tempo não havia motéis, os carros eram poucos e as quelhas e os montes prestavam-se ao necessário, eram albergue de amores ilícitos, clandestinos, era ali que tudo acontecia. E ia-se ao monte. Ia-se ao monte esgaçar umas pernadas de carvalho para o trono da cascata do Santo António da minha rua, ia-se aos fentos ou ao mato para o eido ou às giestas secas para espertar a lareira do chão da cozinha, ia-se brincar aos cobóis, ia-se ver as vistas, ia-se cagar ao monte e ia-se ipso facto dar umas trancadas, e o que eu gostava da palavra trancadas, mesmo sem ainda conseguir alcançar o que ela quereria dizer, não desfazendo do Trancadas propriamente dito, que era um barbeiro estabelecido na vila, mesmo ao lado do tasco do Neca do Hotel.
E hoje? Hoje as antigas quelhas são avenidas e os velhos montes são urbanizações. Resumindo e concluindo, não sei como é agora do amor em Fafe.

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