segunda-feira, 9 de junho de 2025

Cogumelos e outras alucinações

Regresso às raízes
Chegou à idade, meteu os papéis, reformou-se e resolveu voltar às raízes. Mandioca, cenoura, beterraba, batata-doce, inhame, gengibre, nabo, rabanete - à base disso.

Falava-se de cogumelos à porta do café. Os montes e bouças da zona são dados à fungaria, apanhada por quem quer e vendida por bom preço. Faz jeito o livre empreendedorismo: por falar em cogumelos, a rapaziada da terra fuma por ali a céu aberto umas coisas todas bem dispostas que também não devem ser baratas. Uma mão lava a outra, como se costuma dizer, e é a vida.

Dei-lhes valor. Saber de cogumelos não é para qualquer um, e aqueles jovens pareciam saber mesmo do que falavam, e quanto mais mágicos ou psicadélicos, certamente melhor. Lembro-me da Bó de Basto, que era uma especialista muito procurada, sabia muito bem distinguir os venenosos dos comestíveis, que trazia para casa na abada do velho avental e que depois aparava e assava, a meio da tarde, nas brasas preguiçosas da lareira, só com uma mancheia de sal grosso por cima. E uma malga de vinho, evidentemente.
Em Fafe, no tempo em que Fafe tinha montes, os mais antigos dos antigos, gente do campo, também conheciam cogumelos e sentieiros, mas só eles. E a minha sorte é que foi por aquelas cozinhas que eu me criei.

À porta do café, dizia, falava-se de cogumelos. Eram três entendidos. O dono de um daqueles extraordinários telemóveis que têm outro nome e são de esfregar com o dedo como quem acende um fósforo sem cabeça, dá-me lume faxavor?, mais dois compenetrados e doutos colegas. No ecrã do aparelho passavam-se decerto pequeninas imagens e pertinentes informações micológicas, eles de cabeças juntas - porque duas cabeças pensam sempre melhor do que uma, e então se forem três é como se fosse um cientista - e um explicava este é "mediúcre", mas tens a certeza que é "mediúcre" perguntava o outro, é "mediúcre" de certeza absoluta, diz aí em baixo "mediúcre," então não se vê logo que é "mediúcre", sentenciava o que estava para não entrar pessoalmente na história, mas resolvi dar-lhe esta oportunidade de carreira.
O meu telemóvel é um telefone e foi por causa disso que o comprei. Para fazer e receber chamadas. Portanto só quando cheguei a casa é que pude vir aqui ao ilustre computador procurar os cogumelos de raça "mediúcre". Ou da espécie "mediúcre". Ou marca "Mediúcre", com 25 por cento de desconto em cartão. Não encontrei. Mas fiquei a saber que, tecnicamente falando, haverá cogumelos mortais e cogumelos tóxicos, cogumelos aptos para consumo ou cogumelos não aptos para consumo, cogumelos excelentes ou cogumelos... medíocres. Medíocres! Então era isso que a moçarada queria dizer. Medíocre.
Os rapazes não têm culpa. Eles fumam umas coisas e até sabem de cogumelos, honra lhes seja! Mas ouvem na televisão os doutores e governantes a encheram a boca de "mediúcres" e "periúdos" e acreditam que é assim que se diz. Mas não é. Na verdade, nada é como os doutores e governantes dizem na televisão.

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