sábado, 4 de outubro de 2025

Olá, boneca!

Ah!, o amor...
Jovem par de namorados. Abraçam-se, beijam-se, apalpam-se efusivamente nas intimidades, parece-me até que copulam. Sim, copulam. E vão consultando os respectivos telemóveis.

Factos reais como punhos. Manhã de sábado, A28, direcção Matosinhos-Viana do Castelo, um pouco antes da saída para Vila do Conde, por onde costumo atalhar para Fafe. À minha frente segue uma velha carrinha Renault 4L, de um cor-de-rosa altamente suspeito e vagaroso. Aproximo-me, com o fastio próprio dos condutores domingueiros que já não têm paciência para os condutores domingueiros, mas arrebita-se-me a atenção quando, mesmo em cima dela, leio os dizeres da viatura. São uns dizeres sugestivos e muitos, reclames açucarados a um loja de prazeres - sex-shop, como se diz e escreve em português moderno.
E vejo finalmente os ocupantes, ainda por trás: é o do volante e, ao lado, uma louraça de fazer parar o trânsito. Mas eu avanço. Avanço cuidadosamente para a ultrapassagem, olho para o condutor e o condutor sorri malandro. E eu continuo a olhar e o condutor continua a sorrir. Atenção: eu posso olhar e continuar a olhar, porque eu não conduzo, não sei conduzir, nem sequer tenho carta. Vou de pendura. Brincalhão, o condutor. A rapariga não sorri, não me liga nenhuma, segue impávida e serena, olha sempre em frente, tomando talvez sentido à estrada, ainda mais loura do que há bocado e, reparo agora, tem uns lábios vermelhos e escarrapachados, desafiadores.
A minha mulher desliga o pisca e então é que se me faz luz. A indivídua da catrel é uma boneca. Uma boneca mesmo, de plástico, com pipo, uma boneca insuflável, de carregar pela boca. O condutor olha para mim e sorri cada vez mais, no gozo, satisfeitíssimo, completo, não sei onde é que a moça levava as mãos.

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