quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Até a chorar era bonito...


"Umas senhoras da Granja que trabalhavam no Posto Médico e passavam pelo nosso largo diziam que eu "até a chorar era bonito" - contava-me a minha mãe, cheia de vaidade, fazendo-me festinhas nos caracóis, e eu gostava. Quando a minha mãe se zangava comigo - e eu às vezes, realmente, mijava fora do penico -, dizia-me que eu tinha sido deixado lá em casa pelos ciganos..."

Este bocadinho escrevi-o num texto publicado originalmente no meu blogue Tarrenego!, no dia 25 de Julho de 2014, repetido no meu blogue Fafismos, quase dez anos depois, e finalmente aqui nos Mistérios de Fafe, aparado e envernizado, no último mês de Abril. Aquilo da minha meninice passou-se há quase sessenta anos.
E quereis saber a melhor? O Adelino Teixeira, que faz questão de apresentar-se como "sobrinho do Toninho da Luísa", e só lhe fica bem, voltou a contactar-me, em finais de Maio do ano passado e, entre outras amabilidades, fez o favor de revelar-me o seguinte:
"Suponho que quem dizia que, quando eras pequeno, mesmo a chorar eras bonito, devia ser a minha tia Irene da Costa Novais, que mora no Bairro da Granja e hoje com 102 anos, pois passava pela vossa casa e ia para o Posto Médico, onde trabalhou toda a sua vida."
E é que era mesmo, pude confirmá-lo com a minha mãe. Era realmente a Senhora Dona Irene quem me mimava e gabava como menino chorão, aliás em curioso contraciclo com o seu feitio por regra mandão e absolutamente intolerante em relação a miúdos ou até graúdos mais exuberantes ou desalinhados, por assim dizer, que dessa parte também me lembro.
Fiquei tão contente por saber da senhora! Mandei-lhe um beijinho e o meu muito obrigado por fazer parte das minhas memórias. A Senhora Dona Irene, a Ireninha do Posto Médico, ainda festejou o seu 103.º aniversário, no passado mês de Maio, mas partiu em paz nos últimos dias de Setembro, soube-o agora, depois de uma vida longa e cheia. Mando um abraço ao amigo Adelino.

E a fotografia, é isso que perguntais? Bem, a fotografia não tem nada a ver com o assunto em questão, mas também me foi mandada pelo Adelino Teixeira, craque de outra geração, e é, mais uma vez, um documento interessantíssimo. Trata-se de uma das últimas linhas, se não mesmo a derradeira, do Futebol Clube de Fafe, nas vésperas da fusão com o Sporting Clube de Fafe e da consequente fundação da Associação Desportiva de Fafe, em 1958. Isto é, a história antes da história.
Devo dizer, não sem uma ponta de orgulho, que identifiquei meia dúzia de nomes logo à primeira, uma vez que tive o privilégio de conhecer este povo todo, se bem que mais tarde, todos mais velhos e à paisana. Para mim, eram senhores. E eis os heróis. Atrás, de pé, da esquerda para a direita de que vê: António Von Doellinger, Toninho da Luísa, Mário Túbal, Miguel, Estafete e Agostinho. À frente, de joelhos, no mesmo sentido:  Lemos, Mário Freitas, Mário Costa, Hernâni e Albano.

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