sábado, 8 de novembro de 2025

O roxis e o Sr. António Maneta

Fazendo pela vida
O médico deu-lhe dois anos. Ele pediu seis. O médico contrapôs três e que não podia dar mais. Ele exigiu cinco, senão nada feito. O médico disse quatro e não se fala mais nisso. Ele, negócio fechado.

O roxis, quereis saber o que é? Então cá vai. O roxis é da família do taco, mas muito mais antigo, e é sinónimo de chapa, porque ir fazer um roxis ou ir fazer uma chapa era exactamente a mesma coisa. O Hospital de Fafe, no tempo em que quem lá mandava era a "Mamer", tinha uma máquina de roxis muito velha, numa sala muito escura ao lado da urgência, que era o banco, e da escadaria interior que levava à capela, que era também salão nobre. Por baixo das escadas, porta com porta, num quartinho para anões muito arrumadinho, morava o Toninho, ou seja, o Sr. António do Hospital, a quem também chamavam Maneta, Sr. António Maneta ou Toninho Maneta, isto dito com mais burrice do que malícia, e que era, para além de telefonista e porteiro, fumador obstinado e habilidoso, havíeis de o ter visto a manusear a caixa de fósforos, e um dos maiores apaixonantes da Banda de Revelhe, honra lhe seja. Apesar da sua estratégica localização, ali entre a vida e a morte, e mesmo em frente ao Toninho, o aparelho de roxis tinha dia certo e horário de expediente para funcionar. A sua operacionalidade dependia, se não estou em erro, da indispensável presença ou pelo menos orientação do Dr. Mota Prego, que tinha um nome assim de categoria e vinha de propósito de Guimarães para tratar destes assuntos.
Quer-se dizer, o Dr. Mota Prego era o nosso especialista em roxis, e uma vez ele e o Dr. Antero, creio, trataram-me muito bem de uma clavícula partida que era a minha vaidade na escola primária e hoje em dia ainda me dói. E o Sr. António carregava no erre quando me chamava Herrenâni...

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