"Tudo o que é pequenino é bonito", disse ela, caridosa, quando ele baixou as calças. Isto é: há coisas, valha-me Deus, que não se dizem.
Gosto da palavra parreca. Está dito. Pachacha, não. Nem crica. Pito, cona, buceta, siririca, vulva, rata, pássara, passarinha ou perereca, apesar de legalmente registadas, então é que nem admito. Pior, só mesmo vagina, uma obscenidade que me tira do sério e absolutamente comparável à alarvidade de chamarem pénis à ferramenta, que deve ler-se e dizer-se ferraménta. Ou encomenda, que deve ler-se e diz-se encoménda. Pénis e Vagina (neste caso leia-se vajaina, se não for incómodo) até parecem nomes de um casal da Mattel, e se calhar ambos de virilhas vazias, como os outros dois, o Ken e a Barbie. Pila está muito bem. Pirilau, vá que não vá. Mas...
Da parreca é que eu gosto. Para além de uns rebuçados de açúcar suponho que amarelo, formatados em pequenos ladrilhos e embrulhados em papéis de cores diversas e garridas, vendia-se antigamente nas barracas das feiras e festas de Fafe uma espécie de doce alegadamente em forma de pato, ou de pata, vá lá - e esse doce era a parreca. Pata, marreca, portanto parreca - o povo sabe muito, até de gramática, etimologia, formação de palavras...
Diga-se em abono da verdade, o doce, isto é, a parreca, resumia-se a uma somítica camada exterior de açúcar, agora branco, se não me engano, e o resto era um pedaço de massa castanha, azeda e dura como cornos, para lamber, lamber, lamber, lamber, até se desfazer à força de dentes, se a gente não desistisse antes por falta de vagar ou paciência. Comer ou lamber uma parreca era empreitada para umas boas horas, se levada até às últimas consequências.
Quando nos vinha visitar, às quartas-feiras, pelos 16 de Maio e na Senhora de Antime, a querida Bó de Basto trazia-me sempre uma mancheia dos tais rebuçados e, infalível, uma parreca que me entretinha a tarde inteira. Foi decerto daí que eu fiquei freguês.
Sem comentários:
Enviar um comentário