Discutia-se se o Capitão Gancho era pirata ou era corsário. Em Fafe discutia-se tudo. E bebia-se bem. Havia ópticas, prismas, enfoques, ângulos, perspectivas e até pontos de vista para o mar, que ficava a guardar na Póvoa de Varzim. Conversa vai, conversa vem, uns que corsário, outros que pirata, alguns até que contrabandista, moina, ladrão, gatuno, filhodaputa, ó corno!, és pouco boi és!, como num normal jogo de futebol Fafe-Vizela no Campo da Granja, mas não havia maneira de se chegar a uma conclusão ou, vá lá, como remedeio, a um consenso - e era precisa uma maioria qualificada, isto é: dois terços mais pelo menos uma via-sacra. O animado debate mudou bruscamente de rumo quando alguém recém-entrado a bordo alvitrou que o Capitão Gancho se chamava Capitão Gancho para não ser confundido com o Capitão Iglo dos douradinhos mas sobretudo porque comandava o seu navio, o Jolly Roger, com mão de ferro e vencia o Capitão Iglo quantas vezes lhe apetecesse, aliás como o Super-Homem também é mais forte do que Thor, isso então nem se discute. E não se discutiu. Aprovado por unanimidade, e ali se fez história.
Bebia-se verde tinto, mansamente, que por acaso era uma rica pinga. E ainda há quem diga que nos nossos tascos não se aprende nada...
Por outro lado. Corsários são, como se sabe, calças curtas e geralmente ridículas que vão um pouco abaixo dos joelhos. E podem ser chamados também bermudas, sítio de irrevogáveis desaparecimentos, porque isto realmente anda tudo ligado, e daí vem a história do triângulo.
O assunto, como de costume, não era pacífico. Prestava-se, aliás, a discussões mais ou menos geométricas e atlânticas. Com efeito, só o Equilátero acreditava no Triângulo das Bermudas. Era parte interessada, refira-se. O Isósceles e o Escaleno faziam pouco, gozavam o prato, partiam o coco a rir. Sobretudo por causa daquela vestimenta ridícula que não chega a ser calças mas sobeja para calções...
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