PrioridadesO amor é muito lindo. O "jackpot" do Euromilhões é muito mais.
Sonhar com pessoas amigas que já morreram, falar com elas no sonho, explicam-me que é o melhor que me podia acontecer. É o pré-aviso de que está aí a rebentar-me nas mãos uma fartura de boas notícias, um mar de felicidade e saúde como o aço para mim e para os meus. O que é preciso é estar atento aos recados que os defuntos da corda me querem segredar, às tantas até os números do Euromilhões da próxima sexta-feira. Isto é a regra geral, científica, embora possa parecer o horóscopo da Crónica Feminina, patrocinado pelo Sonasol.
Não sei se esta tão conveniente interpretação dos sonhos com mortos também vale para Portugal e para vivos chamados Hernâni Von Doellinger, naturais de Fafe e residentes em Matosinhos-sur-Mer. Suspeito que não, pelo que me tem calhado, mas cá fico à espera de melhores dias.
Tenho alguma pressa, confesso, porque se uma coisa sei de certeza é que os sonhos padecem de prazo de validade. Um gajo deita-se uma noite moço e convencido de que os sonhos molhados até são um acontecimento, vá lá, engraçaaaaado..., e acorda de manhã ancião e alagado em mijo derivado à incontinência. A vida é tão breve, não foi?
Sonhar com algodão, dizem que é muito bom para a saúde e que traz uma vida cheia de dinheiro e de felicidade. Bem empregue. Eu por acaso pensava que era com merda que a coisa funcionava. Quer-se dizer, ensinaram-me em pequeno que pisar merda é que dava sorte, é que era sinal de dinheiro e felicidade, se calhar porque naquela maré éramos tão pobres que não tínhamos acesso ao algodão. E merda, realmente, era uma fartura...
Quando morávamos no Santo Velho, o algodão, esse símbolo branco da escravatura negra, passava quase todos os dias por mim, em fardos, em camiões transbordantes, descendo a Rua Monsenhor Vieira de Castro a caminho da Fábrica do Ferro, Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe, onde depois havia milhares de operários a trabalhar, entre os quais o meu pai e, mais tarde, a minha irmã e o meu cunhado Álvaro, e variados chefes a roubar - e deu no que deu. Ia daqui de Matosinhos, o algodão, do Porto de Leixões, agora mesmo à beirinha de onde moro com vista para o mar se me puser de lado. Quer-se dizer: por mais voltas que a vida dê, estamos sempre no mesmo.
Agora vou dormir e passo à escuta.
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