quinta-feira, 17 de julho de 2025

Mais rápido que uma linha recta

À velocidade da luz
De acordo com os especialistas, a velocidade da luz desloca-se praticamente à velocidade da luz. O que é extraordinário!

A menor distância entre dois pontos é uma recta? Nem sempre. Às vezes a menor distância entre dois pontos pode ser uma curva. Aqui não se trata de ciência, é mero exercício de memória. Por exemplo: lembrais-vos do Generoso? Claro que não vos lembrais do Generoso. Mas eu explico: o Generoso era um extremo brasileiro que jogou no SC Braga bem no início da década de setenta do século passado, por alturas da segunda divisão, se não me engano. O Generoso (e decerto um nome assim nunca foi tão bem empregue), o Generoso, dizia eu, era tão rápido, corria tanto, que, quando atacava e levava um adversário à ilharga, despossuído de outros e melhores argumentos técnicos, chutava a bola para a frente, saía do relvado, contornava o defesa pela pista de cinza, e - espantai-vos! - ainda chegava lá primeiro.

Para que nos entendamos, o relvado e a pista de cinza eram no Estádio 28 de Maio, em Braga. Sim, antes do 25 de Abril de 1974 e muito antes da notável Pedreira do arquitecto Souto Moura, o Estádio 1.º de Maio, na Ponte, chamava-se Estádio 28 de Maio. Por questões políticas e não de calendário litúrgico, rito bracarense: chamava-se 28 de Maio glorificando o golpe militar que naquela data, em 1926, derrubou a Primeira República e abriu caminho à ditadura do Estado Novo. O que só demonstra que, para todos os efeitos, a Outra Senhora levava 27 dias de avanço em relação a Esta Senhora e que as revoluções cometem-se sobremaneira para mudar os nomes das ruas, praças, pontes, estádios e outro imobiliário. E as moscas também.
De corte fascista, o Estádio 28 de Maio, que ainda está de pé, tentava aparentar-se e rivalizar com o Estádio Nacional, no Jamor, e foi inaugurado, em 1950, por Salazar e Carmona, que assim ditos até parecem uma alegre sociedade de costureiros. Veio a revolução dos cravos e o estádio virou a casaca, mudou de nome, passou a chamar-se Estádio 1.º de Maio, viva o Dia dos Trabalhadores, viva a classe operária!, mais ajuizado seria que se tivesse chamado sempre Campo da Quinta da Mitra.
Quereis outro exemplo? O Estádio 25 de Abril, de Penafiel. Antes da reciclagem política, aquele terreiro chamava-se Campo das Leiras, e, convenhamos, nome mais bonito não podia ter.

Mas eu também vi o Generoso executar a sua supersónica façanha no então pelado do meu Fafe, no "Estádio" que poderia ter-se chamado "Maria Cristina", onde o resvés com os pilares de cimento e com os tubos metálicos da vedação conferia um toque extra de emoção e perigo ao espectáculo. O Generoso, sempre na mecha e a passar calafriantes tanjas ao excelentíssimo público e ao desastre, trazia-me à cabeça o encantatório e fanhoso reclame altifalante das barulhentas motas do poço da morte, nos dias dos 16 de Maio e da Senhora de Antime, primeiro no Largo ou na Feira Velha e depois no sítio onde agora está o Pavilhão Municipal. Também ali, no campo da bola, havia "arrojo, coragem, audácia, cooommm-ple-to desprezo pela vida". E eu, palavra de honra, sempre achei que o Generoso, pela sua saúde, devia jogar de capacete...

O grande Generoso, parece que ainda o estou a ver. José Carlos Generoso, que passou por Braga como um cometa na época 1973/74 e faleceu em Setembro de 2021, com 77 anos.

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