domingo, 27 de julho de 2025

Grândola é na Galiza

Os do 28 de Maio
Há os do 25 de Abril. E há os do 25 de Novembro. Uns são donos do 25 de Abril, os outros são donos do 25 de Novembro. E todos apresentam argumentos de propriedade sobre a data respectiva, alguns por herança, outros por usucapião, uns tantos por revelação divina, certos e determinados por puro e simples assalto, sendo curioso notar que abundam, enfim, os que por acaso até dão para os dois lados. É a vida. Os do 25 de Abril cantam bonitas cantigas. Os do 25 de Novembro, regra geral, são do 28 de Maio. E estão de volta.

Houve quem ficasse muito admirado, mas sem razão. Aqui atrasado, em Vigo, na Galiza, num jogo de futebol da primeira divisão espanhola, adeptos do Bétis, de Sevilha, entoaram cânticos fascistas e fizeram a saudação nazi. À saída, para além da derrota por 3-2 com o Celta, levaram também com "Grândola, Vila Morena" e a voz de Zeca Afonso ecoando no Estádio de Balaídos.
Não foi por acaso. Para começar, é tido como certo que a canção "Grândola, Vila Morena" foi estreada por Zeca Afonso, isto é, cantada em público pela primeira vez, exactamente na Galiza, em Santiago de Compostela, no Burgo das Naçons, no dia 10 de Maio de 1972. O Zeca, é também assim que ele é conhecido e referido pelos galegos de média cultura, passou largas temporadas na Galiza, deu por lá inúmeros concertos, andou e cantou por Lugo, Ourense, Pontevedra, Vigo e outros adiantes, fez imensos amigos, tinha e tem uma legião de fiéis admiradores, as comemorações e homenagens sucedem-se ainda hoje. Em Compostela há o Parque José Afonso e mantém-se em actividade a AJA Galiza - Associaçom José Afonso. Nos bares e ruas de Compostela canta-se e festeja-se "Grândola" como quem canta e festeja a "A Rianxeira". Não sei como é agora, mas ainda há meia dúzia de anos havia um pub lá para as traseiras da famosa catedral, a Casa das Crechas, que passava constantemente a música de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, Luís Cília, Fausto, Vitorino e por aí fora, mas Zeca Afonso sempre! Porque na Galiza pensa-se e sente-se que o 25 de Abril também lhes pertence. E fazem os galegos muito bem!

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