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sábado, 23 de agosto de 2025

Fafe lés-a-lés

Desenho Nestinho

Não sei se vos lembrais. O 15.º Portugal de Lés-a-Lés arrancou em Fafe no dia 8 de Junho de 2013. No road book da famosa maratona motard, a voltinha do prólogo foi assim pormenorizadamente desenhada pelo inimitável traço do Nestinho, isto é, do Ernesto Brochado, um verdadeiro apaixonado por Fafe, ou um fafense amador, como gosto de dizer, provavelmente a figura mais conhecida e respeitada do mototurismo nacional, dirigente do Moto Clube do Porto e da Federação de Motociclismo de Portugal, alma mater e organizador crónico do extraordinário Lés-a-Lés e de dezenas de outras iniciativas do género e de menor dimensão. A voltinha, modéstia à parte, ensinei-lha eu, num dia muito bem passado também com o Luís Lopes, como em tantas outras épicas idas à terra, e, inevitavelmente, marcámos almoço com o Pimenta, que, como toda a gente sabe, tem sempre a mania de pagar.
O Portugal de Lés-a-Lés é o maior evento mototurístico da Europa. A edição de 2013 contou com 1.130 inscritos e 1.000 motos. Somando os elementos da organização, estiveram envolvidas, no total, 1.200 pessoas e 1.060 motos, que percorreram, em três dias, 1.050 quilómetros por estradas, estradinhas, aldeias, vales e montanhas, grutas, monumentos e centros históricos, ao encontro de um país por descobrir. E tudo começou em Fafe, no nosso Largo.

terça-feira, 27 de maio de 2025

O nosso mar

Ou por outra. Os oceanos são na verdade seis: Atlântico, Pacífico, Índico, Glacial Árctico, Glacial Antárctico ou Austral e Barragem de Queimadela. O oceano Atlântico separa a Ásia e a Oceania da América. O oceano Pacífico separa a América da Europa, da Ásia e de África. O oceano Índico banha o sul da Ásia e separa África da Oceania. O oceano Glacial Árctico banha os arredores do Pólo Norte, entre limites da América, Europa e Ásia. O oceano Glacial Antárctico ou Austral circunda a Antárctida. A Barragem de Queimadela diz respeito às freguesias de Monte, Queimadela e Revelhe, evidentemente em Fafe.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Em Cima da Arcada, à coca

Macaquinhos no sótão
Ele tinha macaquinhos no sótão. Denunciado pela vizinha bisbilhoteira, foi detido e investigado. Os animais, após vistoria veterinária, seguiram para o jardim zoológico. Ele, para o manicómio.

Levava um banquinho de madeira e sentava-se em Cima da Arcada, de guarda-sol aberto, em dias assim-assim, e um caderninho de folhas quadriculadas, todos os dias. Se por acaso invernasse, o guarda-sol chamava-se guarda-chuva. Mas ele. Ele espertava os olhos cansados, via sair, e tomava nota. Saíam do Mário da Louça, do Damião Monteiro, do Império, do Fernando da Sede, do Foto Jóia, do Talho Novo, do Romeu, da Caixa, do Martins da Avenida, do Rabeca, da Câmara, do Café Avenida, da Peninsular, do Moniz Rebelo, das camionetas do João Carlos Soares, da Juditinha, do Sanica, do Casinhas, da Senhora Eufémia, do Américo das Bicicletas, do Alfredo Sapateiro, das Lobas, do Club, da Pacata, da Loja Nova, da Casa da Cera, dos Armazéns Cunha, do Banco, do Martins Relojoeiro, da Electra, do Manel do Campo, até saíam do Escondidinho. Saíam, e ele registava a lápis lambido, mão trémula porém infalível. Analfabeto de nascença, utilizava a técnica do Miguel Cantoneiro, ecumenicamente adaptada: uma cruzinha pequenina para os pobres e desiludidos como ele, uma cruzinha maior para os menos mal da vida e um cruzeiro para a dúzia e meia de cagões locais. Como costumava dizer, cada um tinha a sua cruz. À noite, em casa, depois da sopa e antes da reza do terço, fazia a soma das cruzes, por escalões, comparava com os dias anteriores, os períodos homólogos, as contas todas certinhas, noves fora nada, anotava as variáveis, indexava à inflação e arquivava tudo no saco de serapilheira debaixo da cama. Aos domingos de manhã, em vez de ir à missa, fazia uma pequena fogueira e queimava a papelada enquanto assobiava vigorosamente o hino de Fafe, "Fafe querido", mas de trás para a frente. Chamavam-lhe o Toma-Conta, o Vigilante. Talvez vigilante da natureza. Da natureza humana. Chamavam-lhe também outros nomes. Diziam que ele tinha um parafuso a menos, que era doudo, para o que lhe havia de dar, ser contador de pessoas. Ele dizia, porém, que era contador de anedotas...

sexta-feira, 21 de março de 2025

Bai-me à benda!

Leve 5 e pague 6!
Ele era um consumidor compulsivo, adorador de promoções. Se lhe aparecesse à frente "Leve 5 e pague 6!", aproveitava logo.

Fafe é uma grande superfície de grandes superfícies. Não sei se já cá estão todas e se cabem cá todas, porque há sempre lugar para mais uma, mas a verdade é que, tirante elas, sobra cada vez menos Fafe à vista. Atenção: eu não critico a invasão, admito até que esta fartura sem peso nem medida possa ser muito boa para Fafe e para os fafenses em geral, decerto não faltarão argumentos e talvez razões que a justifiquem ou tentem justificar. E também não sei se podia ser de outra maneira. Digo apenas o que vejo. E, chegados a Dezembro, sorrio ao ver o Município anunciar, candidamente, ou então como remedeio ou descargo de consciência, que... "Natal é no comércio local!"

domingo, 2 de março de 2025

O Jorge e o senhor de gravata

Foto Ivo Borges / O Minho

Imperdoável. Atrasei-me mais de dois anos para dar com esta sensacional fotografia, e foi por acaso, quando andava à procura de memórias do Café Chinês, de Fafe. E não penseis que o extraordinário do retrato tirado com toda a oportunidade pelo Ivo Borges é o Presidente da República bebendo um fininho, não, o importante mesmo é o Jorge, em primeiro plano, o grande Bergiga ou Bergiguinha, meu inseparável companheiro de infância, ele e o Abílio, o Bilinho, esse Bilinho exactamente, éramos três como os mosqueteiros, um por todos e noves fora nada, unha com carne, inocentes e terríveis, fazedores não premiados de trinta por uma linha. Marcelo Rebelo de Sousa, aqui, é apenas o senhor de fato e gravata azul que está à beira do nosso Jorge, nada mais do que um simples adereço, posto que de gabarito, talvez uma espécie de emplastro de luxo.
Isto reporta a Julho de 2022, numa ocasião em que Marcelo foi falar a Fafe, a convite da Câmara. Do encontro que aqui verdadeiramente interessa, o jornal O Minho deu então notícia, assim:

"Jorge, um conhecido fafense, contou: "O Senhor Presidente parou aqui no Café Chinês, onde eu estou várias vezes, e eu disse-lhe que um dos melhores finos de Fafe é no Café Chinês. E o Presidente disse que alinhava no fininho, mas que não podia beber muito, porque ia fazer um discurso. É uma pessoa muito comunicativa e simpática, até fiquei impressionado."

Estiveste bem, Jorge! Marcelo não podia ter encontrado melhor companhia para molhar a palavra. Ele nem sabe a sorte que teve por estar-te ao lado. Nunca te viu jogar à bola, desconhece que tu é que inventaste as fintas do Messi, do Neymar ou do Cristiano Ronaldo, e rias-te. Para mim, tu é que devias ser presidente da república, porque mereces, mereces tudo, mas é o país que temos. Para além do mais, és "um conhecido fafense", mais conhecido que os tremoços, que também teriam dado jeito com a cervejinha.
Da última vez que nos encontrámos e nos rimos, caro amigo, já há uns anos e ainda no Peixoto, ao balcão, pagaste tu, sem me dar hipótese, lembro-me bem, e não te saiu barata a brincadeira. Estou, portanto, a dever-te uns fininhos. Mas devo-te muito mais do que isso...

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Mistérios de Fafe

Arranco o ano de 2025 com um novo blogue - Mistérios de Fafe, título que pedi emprestado à obra de Camilo Castelo Branco, quando se assinala o bicentenário do nascimento do escritor. Anunciam o abandono e morte dos blogues, e eu, como de costume em contramão, regenero-os e multiplico-os. Não prometo grandes novidades, é certo, mas ofereço mais do que baralhar e dar de novo. Mistérios de Fafe conterá, para começar, todos os meus textos já publicados sobre vidas, pessoas e acontecimentos do meu tempo de Fafe, isto é, sobre o modo como o recordo ou quero recordar. Todos os textos serão revistos e geralmente aumentados, passados a limpo, por assim dizer, à espera talvez de uso futuro, mas, de momento, sem um objectivo concreto no horizonte. Por outro lado, e sempre que possível, os textos serão expurgados das notas de actualidade a que amiúde estão conectados nos meus outros dois blogues - Tarrenego! e Fafismos (De Fafe, com muito gosto). Nenhum texto será igual à sua versão anterior, isso é garantido.
Mistérios de Fafe será o meu arquivo privilegiado, o meu caderno de apontamentos favoritos,  provavelmente para nada. Memórias pessoais, juvenis e profissionais, velhas amizades, cromos e admirações, cenas gagas ou desgraçadas, "adultérios, homicídios, missionários e outros cirros sociais", como dira Camilo, tudo será aqui contado, portanto cuidado, muito cuidado! O ritmo de publicação em Mistérios de Fafe será vagarento, a seu-meu bel-prazer, sem agenda nem calendário, porque esta vida são dois dias e estamos praticamente no Carnaval, que são três.
É esta a ideia. Pelo menos, em princípio...