sábado, 6 de setembro de 2025

O meu primeiro casamento

Ele era um tipo com princípios e valores, sabia das suas obrigações. Casou. Casou pelo civil e casou pela Igreja. Por amor é que não!

O meu primeiro casamento foi o casamento do meu padrinho e tio Américo com a minha querida tia Laura. Vieram convidados do Porto e eu andei de "pão de forma" em forma de Volkswagen, numa épica viagem entre a Igreja Nova e os Bombeiros antigos, logo ali no meio dos palacetes, talvez nem 100 metros sempre em linha recta, e ainda assim enjoei. A fotografia "de conjunto" foi tirada a preto e branco nas escadas do Hospital, talvez esteja a inventar, e o banquete teve lugar no velho salão da Bomba, eu metido numa mesinha à parte para as crianças, logo depois da grande porta dupla de entrada, e portanto não gostei. O meu segundo casamento, eu já rapaz, foi o casamento do meu tio Zé da Bomba com a minha querida tia Lena. Vieram convidados do Porto, evidentemente, comeu-se no famoso Restaurante Jordão, em Guimarães, fui apresentado aos agriões em salada, houve discursos e não me lembro de como é que fomos para lá, se calhar a minha mãe teve de alugar um carro, serviço que decerto ainda hoje, mais de 50 anos depois, andará a pagar a prestações. O meu terceiro casamento foi o casamento da minha irmã Nanda com o meu cunhado Álvaro. Não tenho ideia se veio alguém do Porto, mas provavelmente veio, porque fazia parte ou então era mania, tara de família, isso de vir alguém do Porto, e aquilo fazia-me espécie. "Os do Porto" não era por acaso que eram "os do Porto". Ser-se "do Porto" era um merecimento, uma espécie de doutoramento ou condecoração, estatuto, posição, em todo o caso. Eu ia para o Porto de comboio, automotora, vá lá, de cu tremido e geralmente a dormir, só para namorar, essa é que é a verdade, nunca fiz nada na vida, mas eles não, tinham ido para o Porto a pulso, mais difícil ainda do que ir para a França a salto, "estavam muito bem", regressavam para as festividades da terra, de fato e prendas, magnatas e um bagaço, ninguém sabia o que é que eles realmente faziam no Porto, se é que faziam alguma coisa, e se eventualmente não seria em São Mamede de Infesta ou em Rito Tinto, para não ir mais longe, mas, para todos os efeitos, eram "os do Porto", parentes desconhecidos e habitualmente desnecessários, porém com direito a vénias e mordomias sempre que se apresentassem, e eu, quer-se dizer, afinava. Tornando à Nanda e ao Álvaro, que é o que mais importa, a cerimónia religiosa creio que se passou na Capela de Santo Ovídio, que era moda então, e o almoço lembro-me que foi muito bem servido no restaurante do Café Académico, tudo em Fafe. Depois dos meus três primeiros casamentos, tive evidentemente outros casamentos, inclusive o meu, que ainda hoje vigora, não é para me gabar. O meu casamento realizou-se por acaso no Porto e vieram convidados de Fafe. Muitos. A maioria qualificada. Não foi vingança, mas soube bem.

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