sexta-feira, 19 de setembro de 2025

O homem que se esqueceu de dizer virilhas

Se um elefante...
- E tive assim tipo uma reacção pélvica, passei-me...
- Reacção quê?
- Pélvica. Tipo à flor da pele, tás a ver? Pélvica.
- Queres dizer epidérmica?
- Não, essa cena é dos elefantes. Pélvica. Diz-se pélvica. Dããããã!...

O homem que se esqueceu de dizer virilhas sou eu, passe a imodéstia. Por razões que não vêm agora ao caso, mas eram boas, houve uma larga temporada nos últimos anos em que eu precisei de usar assiduamente a palavra virilhas. Ora acontece que, quando a queria dizer, ela - a palavra, essa mesma, virilhas - não havia maneira de me sair, geralmente varria-se-me da memória, e nem sequer posso alegar que a tinha na ponta da língua, porque isso também não é coisa que se diga. Nessas delicadas ocasiões, vinham-me à cabeça a palavra narinas, sempre gostava de saber porquê, a palavra testículos, evidentemente, e a palavra ínguas, sobretudo a palavra ínguas, que emergia do meu antigamente fafense e parecia-me que andava por lá perto. Mas virilhas é que nada. E eu ficava envergonhadíssimo.
Que se segue: contei aos meus amigos a aflição deste estúpido bloqueio, e um diz-me: - É normal na tua idade. Sou mais novo e tenho às vezes o mesmo problema, mas com a palavra pevides. Não é grave.
Não é grave, vírgula - isto já sou eu outra vez. Porque não se pode comparar virilhas com pevides. E pevides de quê? Pevides secas ou frescas? Nacionais ou importadas? Para aperitivo ou sementeira? Por outro lado, quando eu precisava da palavra virilhas era geralmente para a dizer a senhoras. E, na angustiante ausência da palavra, acabava por acudir-me das mãos, do gesto e do sítio para conseguir explicar-me. Estais a ver onde me agarrava? E achais isso bonito?...

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