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quinta-feira, 5 de junho de 2025

O autógrafo do Tino

Foto Tarrenego!

O Tino, o imprescindível Tino, estava de partida para a "Quinta das Celebridades" da TVI, com a missão mais que esperada de fazer figura de urso, isto lá pelo ano de 2005, se não estou em erro. O meu jornal, que só tratava de assuntos assim importantes, mandou-me a Rans cobrir a festa de despedida do herói local, que meteu comes e bebes, família, vizinhos, amigos, os dois penetras do 24horas, isto é, eu e o repórter-fotográfico, muitos abraços e algumas lágrimas. Um exclusivo à moda antiga. O Tino, que é um cromo mas não é tolo, teve a gentileza de oferecer-me o seu livro "De Palanque em Palanque", inesperadamente prefaciado por D. Manuel Martins (1927-2017), famoso bispo de Setúbal, e acrescentou-lhe uma profética dedicatória, sarrabiscada mesmo antes de entrar para o carro rumo à capital. Escreveu: "Hernâni, espero-te quando sair da Quinta em ombros. Rans sairá em ombros também." E assinou: "Tino de Rans".
Eu não sei se o Tino saiu em ombros, decerto não, mas sei que não fez figura de urso enquanto esteve na Quinta. Fez com que outros fizessem por ele, e já não foi pouco. Repito: o Tino não é lerdo, apenas se esforça por parecer. E goza o prato...
De resto, para mim, o Tino de Rans é praticamente presidente da república. Por isso guardo com tanta vaidade o livro e o autógrafo com que ele me agraciou.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Simplesmente João

"Quando eu morrer - dizia -, vou chatear o Camões". Ele tinha a mania das grandezas. Sonhava com o Panteão...

Se há um consenso nacional é este: de presidente da câmara para cima, os nossos políticos são todos doutores. Doutores ou engenheiros, mas doutor engloba tudo, porque simplifica, dá muito mais jeito e tem outro sainete. E como gostam eles de ser doutores, mesmo que não sejam. E como gostam eles que lhes chamem doutores, e nunca se desmancham. E como gostam eles de se tratarem uns aos outros por "ó doutor", naquele mundo que é só deles e de onde não conseguem sair. E, ipso facto, o primeiro nome deles fica a ser Doutor, não há volta a dar. E assinam Dr. como se assim tivessem saído da pia baptismal.
Mas conheci um político que destoava, e apenas um. Uma honrosa excepção, de que outro dia me tornei a lembrar, vendo-o por acaso na televisão, suponho que dando uma entrevista ao Manuel Luís Goucha, na TVI. Para que conste, essa ave rara chama-se João Soares, tem 75 anos, é ex-eurodeputado, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ex-candidato à liderança do PS contra José Sócrates, ex-deputado à Assembleia da República, ex-presidente da Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e passou como uma bala por ministro da Cultura, embora tenha apenas oferecido umas "salutares bofetadas" a dois colunistas do jornal Público, o suficiente, porém, para desgraçar-se...
Às vezes, por dever de ofício, tive de lidar com a fauna política. E quando contactei João Soares com o, achava eu, indispensável, repetido e subserviente "senhor doutor" na ponta da língua, levei logo para tabaco, e, se não me engano, o assunto até era mesmo esse, tabaco, cigarros, qualquer coisa relacionada com os malefícios do tabaco ou com as proibições de fumar, não me lembro bem. Abri logo com o "senhor doutor" da ordem, mesmo antes do boa-tarde. "Não me chame doutor, eu não sou doutor", interrompeu-me ele, como se acabasse de ser insultado. Fiquei à rasca. - Ó diabo, já fiz merda. O gajo será engenheiro? Professor doutor? Professor doutor arquitecto? Professor doutor arquitecto engenheiro mestrando, isso, mestrando? - pensei. E perguntei: - Mas se não lhe chamo doutor, então como é que eu o trato, senhor doutor?...
E ele respondeu-me: - João. Trate-me por João. É o meu nome.

Por outro lado, havia aquele conhecido presidente de câmara da Área Metropolitana do Porto que se fazia e faz passar por engenheiro e não era nem é engenheiro. Mas assinava Engenheiro e impunha que lhe chamassem Engenheiro. Investiguei a coisa para o jornal 24horas e contactei a autarquia solicitando esclarecimentos. O assessor do Senhor Engenheiro foi incumbido de me pagar um lauto almoço para que a notícia não saísse. E a notícia não saiu. Mas apenas porque o meu jornal me pôs no olho da rua, sem aviso nem vergonha, antes que eu a pudesse escrever. Não tive tempo.