segunda-feira, 3 de março de 2025
Cruzes, canhoto!
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
Emes para que vos quero?
Tomemos, por exemplo, o Dia de Nossa Senhora do Ó, assinalado a 18 de Dezembro. Um dia que causa grande inveja em todo o restante abecedário e sobremaneira entre as vogais.
É impressionante a quantidade de palavras da língua portuguesa que usam escusadamente um eme final. Isso, um mê no fim. O eme que se escreve mas não se lê. Podia passar aqui o dia inteiro a dar exemplos uns atrás dos outros - abrevio, porém, dando seis, como os dedos de uma mão mais um, e sem sair da rima: rodage, vantage, viage, sabotage, calibrage, portage, arage, garage. E afinal são oito, os dedos de uma mão mais três da outra. Para que é que estas palavras precisam do eme no fim se o eme no fim não se diz? Alguém diz Base das Lajens? É só despesa! E logo a letra eme, a das três perninhas, tantas perninhas, menos duas apenas do que as cinco patas do cavalo.
O eme, faço notar, que, ainda por cima, é a letra minúscula mais obesa do nosso abecedário. Um escândalo! Uma evidente desnecessidade e um tremendo desperdício de espaço num país com somente noventa e dois mil quilómetros quadrados. Os fiscais das palavras não andam de metro e muito menos de camioneta. Decerto nem saem à rua. Não falam com pessoas, nunca vieram ao Minho, nunca estiveram em Fafe. Ou, se calhar, faltou-lhes corage para cortar a direito. Hão-de ir longem...
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
Apois, se não for antes
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
O ânus da prova
Concelhos de mãe
Cátia Soraia entrou na universidade e, mal se instalou, mandou uma mensagem à mãe a pedir um concelho. A mãe, que é rica e boa alma, enviou-lhe Freixo de Espada à Cinta.
Já o outro, urbanita de grande metrópole, frequentador de mundo e telejornais, ajeita delicadamente os botões de punho de dezoito quilates, afaga a gravata hermès sofisticada e cara, faz biquinho com os lábios suspeitos e diz, finíssimo porém acutilante, ânus da prova. Ânus da prova, é o que ele diz! Ânus da prova para aqui, ânus da prova para ali, enche a boca de ânus da prova! E chamam-lhe ó-doutor, jurista, comentador, especialista em molduras penais. E ninguém se ri.
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Havia guichos e guichas
Guicho é esperto, inteligente, arguto, atento, muito vivo, buliçoso. Guicho, em Fafe, era elogio. E havia guichos e guichas. E os "ches" de guicho e guicha eram, como sempre, carregados, robustos. "O meu neto é muito guicho", dizia-se. "Era uma velhinha toda guicha", escrevi algures a propósito de determinada fafense excelentíssima. Alguém que recuperava a olhos vistos de uma doença grave ou prolongada, também estava ou ficava guicho, isto é, saudável, com energia. Assim se falava na nossa terra. Guicho ou guicha eram igualmente palavras de uso agrícola, quintaleiro, serviam, por exemplo, para qualificar uma planta recentemente transplantada e que já se apresentava viçosa, vivaz, levantada. Sim, guicho podia ser, ainda, isso: direito, erecto, teso.
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
Há palavras com piada fina
Questões entre parênteses
Quando os parênteses lhe caíram na lama, ele substituiu-os por vírgulas.
Cá está. Cá estão: solhão, cordão, pontão, estradão, picão, mosquetão, cartão e calção, palavras rematadas com o famoso sufixo "ão", unanimemente considerado pelos mais reputados gramáticos como um dos sufixos por excelência para a formação de aumentativos. E, no entanto, para quem sabe das coisas, solhão é uma espécie de solha mais pequena, cordão é uma corda de bolso, pontão é uma pontinha sobre um ribeiro, estradão é uma estrada estreita e geralmente em terra esburacada, aliás conveniente para ralis, picão é uma picareta diminuta, ferramenta de mineiros, mosquetão é mais curto que mosquete, cartão é menor que carta e calção é cueca ou calça curta. São excepções que, como se diz, confirmam a regra? Não, pelo contrário: são palavras que querem que as regras vão dar uma volta.
Evidentemente a palavra pilão levar-nos-ia muito mais longe. Mas fica para a próxima.