terça-feira, 28 de outubro de 2025

Com cem mil coiotes!

Desenhos mais ou menos
Há desenhos animados e há desenhos, digamos assim, mais mortiços. É a vida.

Conheci muito bem Walt Disney. Ele falava brasileiro e dava aos sábados ou domingos à tarde no televisor a preto e branco do café Peludo, em Fafe. O Sr. Walt Disney, que tinha um bigodinho à Peter Sellers com bigode, isto é, à inspector Clouseau, não só falava muito bem brasileiro como, para mim, era mesmo brasileiro, por isso é que se chamava Walt Disney, nome próprio de jogador de futebol, talvez centroavante, e podia muito bem ter vindo jogar para Portugal, mas parece que não veio. Uma coisa é certa: foi ele quem me apresentou a figuras extraordinárias e tão importantes para a minha vida como o Zé Carioca, o Professor Pardal e o Lampadinha, os Irmãos Metralha, o Tio Patinhas, o Pato Donald e os sobrinhos trigémeos Huguinho, Zezinho e Luisinho, todos também a falarem muito bem a língua portuguesa, quero dizer, o brasileiro, o que me enchia realmente de orgulho.
Tive bons mestres. O Sr. Walt Disney e o nosso Marreca, é esse o nome que trago na memória, esperto alfarrabista das mil e uma coboiadas estabelecido naquele "coté" encravado debaixo das escadas da Arcada, do lado do Club Fafense, minúsculo quiosque de um janelo só que era porta aberta para o mundo. "Mundo de Aventuras", "Condor Popular", "Ciclone", "O Falcão". Luís Euripo, Mandrake e Lotário, Tarzan, Kalar, Cisco Kid, Texas Kid, Kit Carson, Fantasma, Buck Jones, Major Alvega, Matt Dillon e Chester, velhos companheiros de jornada, heróis de trazer para casa. Os livrinhos, depois de lidos e relidos, levávamo-los de volta, para a troca, em perfeito estado de conservação, o que só os valorizava, num sistema que funcionava muito bem, entregávamos, por exemplo, seis e trazíamos, por exemplo, três, o negócio era feito a olho, mas mesmo assim valia a pena, principalmente para o quiosqueiro, isso também era fácil de ver.
Aprendi bastante. Foi por estas e por outras que eu fiquei a saber que forasteiros são pessoas que vêm de fora, no faroeste, e portanto deviam era ser faroesteiros, deve ter havido engano, fiz a proposta de alteração aos dicionários, em devido tempo, mas, como sempre, ninguém me ligou. Foi nestas leituras que eu me enriqueci com expressões tão magníficas e úteis ao nosso dia-a-dia como, para não irmos mais longe, "Por Manitu!", "Saca, cão!" ou "Com cem mil coiotes!", e está é a minha preferida. Nos livros aos quadradinhos, Walt Disney já era a cores e ensinou-me, por outro lado, palavras bem portuguesas e bonitas como cadê, sgrunf!, pilantra e sobretudo carona, de que eu gostava muito, quase tanto como gosto ainda hoje da palavra parreca, que eu já conhecia de ginjeira das nossas feiras e romarias, desde pequenino, parece impossível...

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