Foi há coisa de quatro anos, esbarrei sem querer nesta fotografia. Encontrei-a na edição digital do jornal desportivo O Jogo, ilustrando um artigo assinado por Filipe Alexandre Dias, sob o título "Jogar, combater e morrer na Guerra do Ultramar". A foto não está assinada, infelizmente, mas eu conheço-a desde moço, passou-me pela mão, tenho-a de memória, porque está lá um dos meus maiores ídolos da bola: o Valença, ou o "Fafe", como era conhecido na tropa e naquela superequipa do FC Moxico - mais do que uma equipa de futebol, provavelmente um projecto político do regime. O FC Moxico foi campeão de Angola na época de 1972/73, portanto no tempo ainda da Guerra Colonial, e ao lado do Valença pontificavam outros artistas como Chico Gordo, Varela ou Seninho. Exactamente, esse Seninho supersónico que, pelo FC Porto, foi a Old Trafford enfiar dois ao então todo-poderoso Manchester United, em 1977, para a Taça das Taças, e por causa disso acabou por deixar as Antas com um contrato milionário para se juntar a Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Beckenbauer, Chinaglia ou Neskeens nos galácticos originais, os New York Cosmos, nos EUA.
Mas o Valença. O Valença era um médio extraordinário. Um craque com as letras todas, que para ele por acaso até são poucas. Tecnicista, raçudo, clarividente, sensato no jogo, malandro, mandão, era quase impossível tirar-lhe a bola sem falta. Tinha tudo. Tinha tudo para muito mais altos voos, mas se calhar faltou-lhe... o feitio. Isso, o feitio - vamos dizer assim. Teve, em todo o caso, uma carreira brilhante. Foi durante anos capitão da AD Fafe e mais tarde treinador, chamando-se agora António Valença.
De resto, pensando bem, Fafe era por aquele tempo uma abençoada terra de médios extraordinários, talvez derivado ao clima. E lembro-me do Raul, lembro-me do Ismael, lembro-me do Albano, que jogava a régua e esquadro. Que luxo! Que categoria! Que classe!
Claro que o Tónio (António Ribeiro, de baptismo) calha também ser meu amigo. No retrato, para quem não o conhece, o Valença é o segundo de joelhos a contar da direita de quem vê, com a criancinha à frente. E, posto que gozão-mor do reino, era o verdadeiro jogador da bola. Um dos últimos, pelo menos.
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