Alma de poetaTenho dentes sensíveis, disse-me o dentista. É a minha alma de poeta.
Eu, que sou dos tempos áureos do Restaurador Olex, também usei a Couto durante mais de um quarto de século, julgo que inicialmente "receitada" pelo extraordinário Quinzinho da Farmácia, o "médico" dos pobres de Fafe, o melhor médico de família que Deus ao mundo botou, ainda os médicos de família não tinham sido inventados. Aquela coisa de ser "Medicinal" no nome do meio também me convencia, tenho de confessar, e só a larguei após sucessivas tentativas falhadas para fazer sequer mexer uma cadeira de plástico com os dentes e depois de ir ao dentista pela primeira vez na vida, aos 45 anos.
A Couto nasceu no Porto há 93 anos, quando não era natural um preto de cabeleira loira e um branco de carapinha. A primeira fórmula da "Pasta Medicinal" foi registada a 13 de Junho de 1932, por Alberto Ferreira Couto e um amigo dentista. O novo produto prometia não só lavar os dentes, mas também, tomai nota, protegê-los dos malefícios da sífilis, reduzir os casos de infeção gengival e limitar o fenómeno crescente da retração das gengivas. Em 2001, por imposição das normas comunitárias relativas a este tipo de artigos, a marca foi obrigada a deixar cair a tão sedutora quanto conveniente designação de "Medicinal", passando a chamar-se simplesmente Pasta Dentífrica Couto. Até hoje.
Em 2012, o então principal accionista da empresa Couto, em Vila Nova de Gaia, anunciou que tinha dois pretendentes à compra da marca. Um da área da cosmética e outro do sector farmacêutico, ambos com intenções de "aumentar mais as vendas". O negócio deveria ser fechado até 2017. Não sei se foi, desinteressei-me do assunto. Mas também hoje em dia as cadeiras são muito mais leves...