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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Época de incêndios, como manda a lei

De que se queixa este povo? Estamos em plena "Época de incêndios", e atenção que não fui eu quem lhe pôs o nome e a agendou para esta altura do ano - foi o Governo, foi Portugal! Portanto, estamos na "Época de incêndios", legítima, de papel passado, dentro do prazo, no tempo certo, como se fosse obrigatória, e queriam o quê? Inundações?...

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

O terraplanista

Desenho Nestinho

A Terra tem diversos movimentos. Os mais famosos movimentos da Terra são o movimento de rotação, que é a Terra a andar egocentricamente à volta de si mesma - tipo Jorge Jesus ou André Ventura, sem ofensa para o primeiro - , e o movimento de translação, que é a Terra, agora modesta e submissa, hipnotizada, a andar à volta do Sol, qual aborboletinha avoando em torno dos afilamentos das alâmpadas, como diria o outro, o das imitações. Ora bem. O que me espanta é que tanto safanão não desequilibre a Terra nem a faça entornar os oceanos ou despencar por aí abaixo os desgraçados habitantes do hemisfério sul, que praticam o pino durante o ano inteiro. Quer-se dizer: não desequilibra mas incomoda. E por estas e por outras é que a Terra anda ligeiramente chateada nos pólos.

Posto isto. O desenho, feito de encomenda, é obra do Nestinho, Ernesto Brochado, um verdadeiro apaixonado por Fafe, ou fafense amador, provavelmente a figura mais conhecida e respeitada do mototurismo nacional, dirigente do Moto Clube do Porto e da Federação de Motociclismo de Portugal, alma mater e organizador crónico do extraordinário Lés-a-Lés e de dezenas de outras iniciativas do género e de menor dimensão. O Nestinho, que é cicloturista e ex-ciclista, que é atletista e maratonista bissexto, que é eminente motociclista, evidentemente mototurista, raramente motorista e às vezes motosserrista, que é maquetista, cartunista, desenhista, ecologista e portista, que aprendeu comigo a gostar de Fafe, e gosta muito, que é provavelmente uma das cinco melhores pessoas do mundo, e, tenho de dizer, eu nunca soube das outras quatro.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Mataram os vizinhos

Chamem a polícia!
Chegou a casa e, como de costume, bateu à porta. Desta vez, a porta da vizinha chamou a polícia.

É. Mataram os vizinhos e agora somos condóminos. Éramos vizinhos, lembrais-vos? E a palavra vizinho queria dizer coisas boas: proximidade, amizade, companhia, ramo de salsa, comunidade, confiança, solidariedade, copinho de vinho novo, malga de marmelada, frasquinho de geleia, as primeiras uvas, cumplicidade, visita ao hospital, dar a camisa, porta aberta, conselho pedido e recebido, comadre, quase família, melhor que família, tu cá, tu lá, serões no nosso passeio pelas noites quentes de luar, a rua inteira sentada em banquinhos de costura, em mantas ou almofadas, no chão estreme e morno, cantando modinhas, contando histórias, vidas. No Santo Velho ou no Assento. No Picotalho ou na Cumieira, na Rua de Baixo ou na Fábrica ou na Recta ou no Retiro ou na Granja. Éramos vizinhos. Agora somos condóminos. E a palavra condómino tem uma carga que é um pesadelo: propriedade, despesa, individualidade, indiferença, reunião, ausência, chatice, discussão, impessoalidade, porta fechada a sete chaves (três, pelo menos), queixinha, fracção, má-língua, elevador, o tempo, bom dia e boa tarde, eu cá, tu lá. Solidão, solidão. E é irónico. Há mais de trinta anos que eu sou um condómino exemplar, um condómino da melhor pior espécie - não apareço, só pago -, mas hoje deram-me as saudades de ser vizinho. Sei que já vou tarde. Estamos todos condenados a sermos condóminos para o resto das nossas vidas, enjaulados em aldeias-bairros verticais. Penitenciárias.

É. Cavamos as nossas próprias trincheiras, os nosso túmulos. As pessoas vivem fechadas em caixotes. Em caixinhas dentro de caixotes. E cada caixinha tem um respiradouro chamado varanda - ou sacada, se for na nossa terra. E as pessoas fazem marquises!

terça-feira, 20 de maio de 2025

Flores ao solheiro

Um restinho de sol e lá se sentavam elas comparando doenças e façanhas de netos havidos ou inventados. Rosa, Violeta, Hortênsia, Margarida, Dália, Açucena - evidentemente no jardim imaginário, ao entardecer da vida.

Jardins perdidos

Traz uma árvore também
Era uma localidade um bocadinho estranha, naturalmente austera porém exuberantemente moderna e cosmopolita. Nas suas principais entradas, a autarquia colocara frondosas tabuletas que avisavam os forasteiros: "Se quiser sombra, traga a sua própria árvore".

Os jardins era uma coisa que existia antigamente. Como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides e assim. Era uma coisa muito antiga, do tempo dos romanos, basta ver que Deus, quando criou o mundo, o mundo era um jardim, mais ou menos como a Madeira, mas chamava-se Éden, como o velho cinema de Lisboa, ou Jardim do Éden ou Jardim das Delícias ou Paraíso Terreal ou simplesmente Paraíso, como o novo cinema de Palazzo Adriano. O plural de Éden é édenes, convém não esquecer.
E corria tudo bem no Paraíso. Quer-se dizer: corria tudo na paz do Senhor. Poder-se-ia até afirmar, creio que sem forçar demasiado a nota, que o Paraíso era, naquele tempo, um autêntico paraíso. Estava escrito, porém, que Adão e Eva tinham de asnear. Podiam ter cometido um pecado qualquer, um pecadinho de nada, um pecado repetido, copiado, um que estivesse na moda. Mas não! - quiseram ser originais. E foram. Adão e Eva cometeram o pecado original e deu na merda que deu. Até hoje.
Eu sou desse tempo. Do tempo em que ainda havia jardins. Não se sabe bem se foi por causa dos traques dos dinossauros ou derivado ao impacto de um asteróide gigante, eventualmente do tamanho de uma cidade, a verdade é que coisas antigas como os castelos, as pinturas rupestres, as pirâmides, os jardins e assim foram regra geral varridas da face da Terra, restando hoje em dia apenas algumas amostras assumidamente raras e razoavelmente arqueológicas.
Para que a Humanidade tenha pelo menos uma vaga ideia de como era o mundo em Portugal antes do apocalipse é que Portugal descobriu Vila Nova de Foz Côa, por exemplo, e Fafe mantém às vezes de porta aberta o vetusto Jardim do Calvário, que nos seus tempos mais pré-históricos até teve crocodilos, e bem barulhentos, isso toda a gente sabe.
Os jardins antigos, os jardins entretanto desaparecidos, foram substituídos por urbanismo, é assim que se chama a nova coisa. E como é que isso se fez? Como é que isso se faz?

Desta maneira simples. Pegue-se num bom pedaço de terreno relvado, com árvores e com sombras, e arrase-se tudo. O terreno, a relva, as árvores e as sombras. O urbanismo não quer sombras. Encha-se o espaço de alcatrão, cimento, placas de granito e mármore, pedregulhos aparelhados fazendo de conta de bancos e estacas de alumínio a imitarem árvores ou, quem sabe, a imitarem esculturas muito inteligentes e indecifráveis, de preferência com esguichos mas sem água derivado à seca e à poupança. Isto é urbanismo! Pegue-se no jardim da cidade, arranquem-se as flores e os arbustos, envenene-se o verde, construam-se desertos em forma de praça e mandem-se as pessoas para casa. Isto é urbanismo! Pegue-se num monte, sítio de memórias, de brincadeiras da infância, santuário de locais secretos e míticos, reserva de saúde e natureza, e corte-se-lhe a crista, cape-se, desarborize-se, desfaune-se, terraplene-se, enxote-se a bicharada, cale-se o incómodo do chilreio dos pássaros, ergam-se moradias de preferência com feitio de caixote, altas, pegadas e muitas, fechadas, e muros e portões e alarmes e estradas e carros e escapes e buzinas e estampanços e atropelamentos e antenas parabólicas e fios e postes de alta ou remediada tensão. Isto é urbanismo!

Resumindo e concluindo: roubam-nos os jardins e dão-nos esplanadas desamparadas e escaldantes, arrancam-nos as árvores e impingem-nos guarda-sóis publicitários. E, se nos queixamos, dizem-nos que não percebemos nada do assunto. Mas qual assunto? Viver?...

quarta-feira, 7 de maio de 2025

O mar começa em Fafe, devagarinho

O rio Vizela nasce em Fafe, exactamente no Alto de Morgair, antiga freguesia de Gontim. Depois de banhar Fafe, sobretudo na barragem de Queimadela, o rio Vizela passa também, por esta ordem, pelos concelhos de Felgueiras, Guimarães, Vizela, a que dá nome, e Santo Tirso. Neste seu interessante percurso, o rio Vizela acolhe diversos e variados influentes. O influente mais importante, isto é, o mais influente, é o nosso rio Ferro, mas não podemos esquecer o rio Bugio e, se não me engano, as ribeiras de Docim, de Moreira e de Ribeiros e o ribeiro de Costas Antas. São influentes porque eles é que abastecem de água o rio Vizela, que, por sua vez, é influente do rio Ave, que vem da serra da Cabreira, Vieira do Minho, e desagua no oceano Atlântico, em Vila do Conde. Creio portanto não ser exagero nenhum dizer que o mar começa em Fafe, pelo menos um bocadinho.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

Fafe e a Guerra dos Cem Anos

Desarmado em parvo
Era tão pacifista, tão pacifista, tão objector de consciência, tão objector de consciência, tão não-violento, tão não-violento, que havia quem dissesse que ele andava constantemente desarmado em parvo.

A Batalha de Castillon foi levada a efeito no dia 17 de Julho de 1453 e ficou para a História como a derradeira e decisiva batalha da Guerra dos Cem Anos, que decorreu razoavelmente entre franceses e ingleses. A França ganhou, e félicitations à la cousine. A Guerra dos Cem Anos chama-se Guerra dos Cem Anos porque durou cento e dezasseis anos, mas chamar Guerra dos Cento e Dezasseis Anos à Guerra dos Cem Anos não dava jeito nenhum aos historiadores e contabilistas bancários, e assim começaram os arredondamentos, que saem sempre à casa. Por outro lado, a Guerra dos Cem Anos ostenta este curioso e inusitado nome, Guerra dos Cem Anos, para se distinguir da Guerra dos Oitenta Anos, que se verificou não sem alguns sobressaltos entre os futuros holandeses, actuais neerlandeses ou, quiçá, países-baixistas, e Espanha, com a Guerra dos Dez Anos, entre cubanos e espanhóis, com a Guerra dos Treze Anos, entre prussianos e teutónicos, com a Guerra dos Trinta Anos, entre a Alemanha e quem lhe aparecesse à frente, com a Guerra dos Sete Anos, entre França mais aliados e Inglaterra mais aliados (incluindo Portugal), com a Guerra dos Seis Dias, entre árabes e israelitas, com a Guerra das Audiências, entre a SIC e a TVI, e até com a Guerra das Rosas, entre a Rosa Maria e a Rosa Beatriz, que não se dão nem à lei da bala e andam sempre à trolha uma contra a outra derivado ao Anacleto Lingrinhas, que por acaso é pintor de automóveis e aquece a cama a ambas. A História, assim maiusculada, não se compadece realmente com equívocos.

E quereis saber como é que começou a Guerra dos Cem Anos? Então, cá vai.
Era um encontro previsto para ser aprazivelmente diplomático e discutido à melhor de três sets, quando Mister Cheddar, pela Inglaterra, e Monsieur Camembert, pela França, reuniram em Sherwood, sob os auspícios do Robin dos Bosques e a bênção de Frei Tuck, tendo sobre a mesa, já naquele tempo, a delicada questão das quotas leiteiras. Estava tudo a correr bem, estava-se até bastante agradável, entre uísques e champanhes perfeitamente bebidos, mas era um cheiro a chulé que não se podia. Foi então que o inglês, já com um grãozinho na asa e uma mola de roupa no nariz, não aguentou mais e questionou o francês, com a ajuda do José Milhazes, que fazia as traduções: - Porque é que o caro amigo (old chap, no original) não vai mas é lavar os pés no Sena?...
O franciú levou a mal e foi assim que começou a Guerra dos Cem Anos. Até hoje.

Ora bem. Eu cuido que a Batalha de Castillon ocorreu em Fafe, exactamente em Fafe, aqui mesmo nas nossas barbas, numa antiga elevação situada entre a Ponte do Ranha, o Socorro, a Alvorada, a Fábrica do Papelão, a casa da Dona Aurora e o Estádio, com o rio Ferro a passar e os campos e bouças de Cavadas aos pés. Ali se alcandorava, com efeito, o famoso monte de Castelhão, como se diz em português corrente, ou Castilhom, como se diz em fafês correcto - e portanto está fácil de ver onde franceses e ingleses foram buscar local e nome para a refrega. O monte de Castelhão era, na verdade, um sítio aprazível para a realização de todo o tipo de batalhas, como por exemplo brincar aos cobóis, e tinha um belíssimo pionono, de que infelizmente não há muita certeza. Mas isso é outra história.

Em todo o caso, não será certamente despiciendo relembrar que Fafe, o seu centro histórico e arredores consuetudinários, sempre dispôs das melhores e mais vantajosas condições naturais e estruturais para a realização de grandes eventos e mesmo certames de índole nacional e, como se vê, até internacional ou mais, nomeadamente batalhas e guerras de uma forma geral e dos mais diversos feitios. É uma terra que fica à mão e onde medram e farturam equipamentos a esse respeito e subsídios camarários. Não por acaso, suspeito e defendo que a própria Batalha de São Mamede, fundadora da nacionalidade, foi em Fafe que realmente se desenrolou, pelo menos um bocadinho, e ainda ninguém me conseguiu provar o contrário.

sábado, 15 de março de 2025

Coisas do carvalho

A landre
A landre, é preciso que se note, já serviu para a nossa alimentação. O povo - isto é, o pobo - chamava-lhe também bolota ou glande. E há quem agarre na glande e dela faça carvalho.

Há quem diga que Fafe tem a maior mancha contínua de carvalhal da Península Ibérica, e até quem, achando pouco, acrescente que é a maior mancha contínua de carvalhal de toda a Europa. O fenómeno será ali por aquela corda de Aboim e Várzea Cova, realmente carvalhal até dar com um pau - muito ainda para arder, como costuma dizer o meu amigo Lopes.
Na vila antiga também tínhamos o nosso Carvalhal, assim com maiúscula inicial porque era nome de sítio, entre a Fábrica do Papelão e o Picotalho, ladeando o rio Ferro e estendendo-se aos pés do extinto monte de Castelhão até Cavadas, onde agora vicejam campos de futebol, rotundas e supermercados. Chamávamos-lhe Carvalhal porque tinha carvalhas, bem jeitosas para fazer baloiços de pneu e outras brincadeiras, chão ervado e limpo, sombreado, um mimo para passar tardes de sábados e domingos à roda de um bom merendeiro, famílias, grupos de amigos ou bandos de moços aos cobóis, com todo o respeito pelos campos cultivados ali à beira. Era o verdadeiro "parque da cidade", mas nem fazíamos ideia. E em São Gemil havia outro. E mais dois ou três sítios assim, bouças e carvalhais, conforme vieram ao mundo e de usufruto universal. Vivíamos no paraíso, inocentes e despreocupados, sem fazer caso, sem dar valor. Até que um dia.