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terça-feira, 16 de setembro de 2025

A polinheira e a trepa

Um par de estalos
Os estalos são como os óculos, as luvas, as calças, as meias, as botas, os patins, as jarras, as alianças e até os cornos. Usam-se aos pares.

Uma polinheira era uma tareia, uma sova, uma surra, uma tunda, uma coça, um enxerto, um enxerto de porrada perpetrado amiúde com uma vara ou fustiga, às vezes com um cinto e habitualmente de mãos estremes, ou até com o pé que estivesse mais à mão. Quer-se dizer, uma polinheira era uma trepa, que deve ler-se e dizer-se "trépa" e, neste caso, também podia significar folho de vestido. Polinheira e trepa, palavras nossas, antigas, questão cultural, do tempo em que o povo era muito honrado, um povo que dava, dava muito, dava tudo, era gente pobre mas de mãos largas, até dava polinheiras e trepas, dava porrada de criar bicho, era uma fartura, graças a Deus. E quem recebia, levava. Levava polinheiras, levava trepas, sempre pela medida grande, levava até para tabaco, mesmo que não fumasse, era o pão nosso de cada dia. Polinheira e trepa eram palavras com muito uso e imensa prática, no nosso Minho, em Fafe, metidas a cotio por uma questão de princípio, porque "quem dá o pão, dá a educação". E educar era bater. E aprender era levar, consoante o ponto de vista. Em casa, na escola e até na catequese, porque a pancada, naquela época, era como Deus nosso Senhor - estava em toda a parte.

domingo, 14 de setembro de 2025

Vós não sabendes nada!

Gaba-te cesta
Era um homem muito antigo. Falavam-lhe em gigas e ele imaginava cestas...

Uma rapariga da minha idade, isto é, uma idosa, descendo a Arcada em direcção ao Mário da Louça se ainda houvesse, em passeio, de braço dado e discutindo alegremente com o neto, moço com ares de universitário repetente e bem disposto, os dois perdidos de riso. Quadro bonito. Flagrante exemplar da harmonia familiar e do eterno conflito de gerações, a sabedoria dos antigos contra a ignorância de hoje em dia. E diz ela, toda despachada e gramatical, aritmética, falando para o rapaz, sim, mas sobretudo para o redor, para quem a quisesse ou não ouvir, e suspeito que especialmente para mim, que lhe pareço de igualha e vou em sentido contrário, apontado à memória do Américo das Bicicletas: - O quê? Eu até sei as letras romanas, quanto mais! Vós agora é que não sabendes nada...
E realmente.

Agora, uma revelação. O Sr. Américo das Bicicletas, que eu conheci muito bem, era, se não me engano, padrinho do meu padrinho e tio Américo. O que quer dizer que o Sr. Américo das Bicicletas era praticamente meu padrinho-avô, e eu nunca tinha pensado nisso, o que é extraordinário. Pensei hoje, agora, sem mais nem menos, ou por causa dos números romanos, e fiquei muito feliz. Porque eu gostava muito da figura do Sr. Américo das Bicicletas.

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Então és tu, minha porca?!...

Meia dose de xenofobia
A chinesinha descia a rua em direcção à praia, e levava o cão pela trela. Achei aquilo tão esquisito! Como se eu levasse a passear um frango de churrasco...

Todos os santos dias, não sei se por promessa, havia um canídeo que, com vossa licença, cagava ao portão da minha sogra. Todos os santos dias. Ficava ali aquele montinho de merda, com vossa licença, às vezes dois ou três montinhos de merda, com vossa licença, ou quatro ou cinco, passeio adiante e organizados em filinha pirilau, porque o alegado canídeo devia ser animal para comer à tripa-forra e evacuava, com vossa licença, geometricamente organizado e por ordem alfabética.
A minha sogra, que me dirigia uma certa osga, cismava que era eu, para lhe fazer desfeita não sei de quê. E não foi fácil convencê-la de que aqueles saralhotos, com vossa licença, eram evidentemente souveniers de canídeo. E eu sou balança.
Uma vez quase apanhei o infractor com as calças na mão: a merda, com vossa licença, ainda a fumegar, mas o canídeo já a descer o fim da rua com a dona pela trela, e, dissesse eu o que dissesse, estaria a falar para a central. Calei-me, portanto.
Portanto, calei-me, mas pus-me à tabela, agarrei-me ao Excel, recolhi e cruzei informações, fiz um horário e aqui atrasado apanhei-os em flagrante. À horinha, nem mais cedo nem mais tarde, como diria o meu querido tio Zé da Bomba, abri de rompante o portão e lá estava a acontecer à minha frente: merda ao vivo, como eu previa e com vossa licença.
Fiz a cara de nojo que trazia ensaiada há mais de um ano, e disse:
- Então és tu, minha porca?!...
- Não é uma cadela, é um cão... - empertigou-se-me a dona, histericamente professoral.
- Mas eu não estava a falar para o canídeo, minha senhora... - disse eu, e fechei outra vez o portão, antes que ela percebesse.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Diz que binho, mas num biero

Que bonito que era o falar em Fafe! A criança, sentadinha à mesa, ou à roda da merenda, já julgava que era home e pedia: - Binho! O adulto, responsável, geralmente a mãe, respondia-lhe por desfastio, sem fazer caso: - Diz que binho, mas num biero. Isto é, "constou/disseram/dizem/diz-se que vinham, mas não vieram", e assunto resolvido. Mas dito assim, gramatical, higiénico, a seco, tão aos dias de hoje, lá se foi a graça toda. É preciso molhar a palavra...

(Publicado originalmente no dia 14 de Janeiro de 2025)

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Ele até sabia de queijos!

Super Pop Limão Reserva 2017
Era um escanção com um paladar e um olfacto apuradíssimos, premiados. Até adivinhava o detergente que lavara os copos...

Ele tinha brilhado durante toda a refeição, sem dar vez, falando de boca cheia sobre vinhos, sobre o seu extraordinário conhecimento a propósito de vinhos. De boca cheia de comida e de muitos caralhos e de diversos foda-se e de um que outro puta que pariu, mastigando e bojardando simultânea e sonoramente, expulsando amiúde alguns bocaditos de carne e batata frita, coisa de nada, pequenas migalhas como projécteis. "Vinho? Vinho bom, vinho excelente, arranjo eu no supermercado a menos de um euro a garrafa, arranjo-lhe quantas garrafas quiser, é quantas garrafas quiser!", dizia ele e tornava a dizer, tentando, sem sucesso, convencer a sogra e o sogro, em frente e sem guarda-chuva, perante o evidente orgulho da esposa, ao lado e olhando à volta, ou então seria apenas desconforto, vergonha.
O jovem comensal brilhava, portanto, a grande altura. Dominava realmente a pantera. E vestia uma camisola de um azul duvidoso que dizia à frente, em letras gordas, BOSS. Ele sabia que já tinha conquistado a sala, pelo menos a mim, na mesa contígua, não sou cego nem surdo e era-me impossível escapar ao espectáculo. Ele tinha-me na mão. Resolveu, então, encerrar com chave de ouro a performance e o almoço, mandando vir queijo para sobremesa e aproveitando a oportunidade para voltar a exibir os seus dotes de conhecedor, de especialista. Exigente, pediu informações a respeito do queijo, porque para ele não podia ser um queijo qualquer. Perguntou se o queijo era flamengo ou era Limiano, foi isso mesmo que perguntou, assim, porque, a verdade também era só uma, como passou a explicar, ele não gosta de queijo flamengo, nem o pode ver, quanto mais comer. Flamengo, nunca! Gosta muito é do queijo Limiano, isso sim, "daquele de bola, com buraquinhos", fez questão de especificar, como um verdadeiro fromager.
O funcionário do restaurante informou que o queijo da casa era por acaso desse, do bom, queijo Limiano, do de bola, o queijo veio, foi comido com marmelada e toda a gente ficou satisfeita. Evidentemente, o queijo Limiano de bola é queijo flamengo, qualquer um sabe, mas isso são pormenores que só interessam a pessoas que, como eu, não percebem nada de queijo.
E então lembrei-me, a este respeito, do querido Sérgio Lopes, honesto apreciador de sandes de queijo e um dos maiores e mais cristalinos amigos que deixei em Fafe.

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

A madama e os saralhotos

Dizia o povo, e com razão: cagarim, cagarou-se, há dois modos de cagar, se o cagalhoto for grosso, fica o cu o fumegar.

Matosinhos à tarde. Sol que é um consolo. Puxado pela trela do pequeno cocker, o casal desce a rua, a minha, em direcção ao mar ali à beira. Eis senão quando, porventura desarranjado pelo strogonoff de vitela ou pelo leite-creme que lhe serviram ao almoço, o aflito canídeo arreia as calças e caga ali mesmo em pleno passeio, com evidente alívio pessoal e grande satisfação dos babados papás. Acabada a obra, a madama, higiene e civismo acima de tudo, vai à carteira de marca e retira um lenço de papel de um branco imaculado, abre-o, ao lenço casto, provavelmente perfumado, e volta a dobrá-lo, liturgicamente, agora apenas em dois, baixa-se, quase que me parece que se benze, e limpa o cu ao cão. Isso, limpa o cu do cão. Depois amarrota o papel e lança-o para junto do saralhoto. E ali fica o serviço. No meio do passeio. Do meu. E lá seguem os três para o mar e para o sol, dois deles puxados pela trela.
A autarquia agradece. Faz colecção. No brasão de Lisboa desenharam corvos, no de Matosinhos deveriam figurar saralhotos. A cidade de Matosinhos, para além de muitas coisas boas que tem, é isto: não há passeios que cheguem para tanta merda de cão. E a culpa não é do cão.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Não há escola! Não há escola!

Mãe querida, mãe querida
Era uma mãe à moda antiga, pobre, viúva, severa e de mão lesta, e foi chamada à escola derivado ao filho do meio. Eram nove, ao todo. Na escola ouviu o que não queria, enfunou, e ligou ao miúdo logo ali, à frente de quem de direito, para que soubessem, gritando, cheia de nervos: - Vais ver, quando eu chegar a casa! O filho, que era cego, ficou todo contente.

Alegria, alegria a sério era aquilo: chegar à escola e a "empregada" mandar-me embora. Ordenava, porque naquele tempo as "empregadas" é que mandavam nas escolas primárias, repito, ordenava: - Vai já para casa, diz à tua mãe que a senhora professora está doente. E ordenava com o braço estendido e no fim do braço estendido tinha uma mão estendida com um dedo estendido que não admitia discussão e queria dizer "rua!"...

(Também poderia querer dizer "Salazar! Salazar! Salazar!", mas sem dedo. Naquele tempo, insisto, as "empregadas" é que mandavam nas escolas. Mandavam nos alunos, mandavam nos pais e mandavam nos professores. Mas mandavam tanto na escola como na rua - o melhor era fugir-lhes. Lembro-me especialmente de uma "empregada", a Dorzinhas, se não estou em erro, que vim a conhecer na Escola da Feira Velha e que era a verdadeira delegada escolar de Fafe. A seguir ao presidente da Câmara, ao comandante da Legião Portuguesa, ao regedor de pistolete à cinta e eventualmente ao Miguel Cantoneiro, a Dorzinhas era a autoridade local. Parece que a estou a ver, estatura meã, seca de carnes, morena, cabelo curto, despachada de pernas e de boca, severa, especialista em orelhas e cachaços, com todo o ar de solteirona, e se calhar não, e às tantas nem se chamaria Dorzinhas e era uma excelente pessoa.)

Mas então, rua! O coração rebentava-me pela boca mal saía o portão, aos gritos e aos saltos - Não há escola!, não há escola!, não há escola!, Rua Montenegro fora, enervando desnecessariamente o pobre Baptista do Asilo, que desatava às cabeçadas contra o gradeamento carcerário, e eu festejando efusivamente a dor de barriga da professorinha, dando a boa nova aos colegas retardatários, que vinham ao contrário e faziam logo ali meia-volta-volver e também saltavam e gritavam - Não há escola!, não há escola!, não há escola!...
(Alegria ingénua, pura, intensa, física. Era evidentemente uma manifestação de profunda catarse, embora eu na ocasião não o soubesse, porque ainda não tínhamos chegado a essa palavra, catarse. "Não há escola!, não há escola!, não há escola!..." era de certeza a antítese do "Pardentro, pardentro! Já tocou!" que gritávamos, em dias menos afortunados, desgostosos mas sempre aos saltos, em anticlímax, mal a sineta anunciava o fim do recreio e a hora de voltar à sala, antítese, estou em crer, mas eu também não fazia ideia, também ainda não tínhamos chegado a essoutra palavra, nem tão-pouco a anticlímax, que me lembre, mas foi para aqui que me deu hoje...)
Não há escola! Para trás, que se faz tarde! Virávamos costas ao casarão da sopa, passávamos a Casa de Santa Zita, que caducou, a Cafelândia, que é um banco, a Rosindinha Catequista, que desapareceu, o Largo, que estreitou, a Loja Nova, que morreu de velha, o Peludo, que acabou, o Cinema, que é outra coisa, a Aurorinha Maia, que era um vulcão e mudou de ares, a Padaria do Sr. Rodrigues, que se foi, a Quiterinha, que é só memória, as Grilas, que Deus tem, o Funileiro, que já não há, quer-se dizer, alarmávamos a vila inteira - Não há escola!, não há escola!, não há escola!, eu chegava a casa, no Santo Velho, esbaforido e feliz, e a minha mãe, por tradição, enfiava-me logo à entrada duas ou três galhetas derivado àquele "espectáculo todo" e "para aprender". A nossa mãe era, como agora se diz, uma mãe muito táctil.

Aqui que a criançada não nos ouve, a verdade é esta: melhor do que ter escola (porque, agora a sério, escola é bom!), só mesmo não ter escola. Ao longo da minha vida aconteceram-me outros momentos extraordinários, episódios marcantes, memoráveis, como, por exemplo, o nascimento do meu primeiro pentelho ou a descoberta do tesão, mas, palavra de honra: nada se compara com aqueles dias gloriosos em que chegava à Escola Conde Ferreira e me mandavam para trás. Nada. E quem mos dera outra vez, esses dias de antigamente, embora Fafe já lá não esteja...

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Tem de ser, mas não é obrigatório

A gente vai fazer a sua caminhada matinal ali para o Parque da Cidade, nos antigos campos de Sá, e encontra-se uma com a outra, ainda que somente de passagem. A gente cruza-se e, à força do hábito, ou talvez educação, cumprimenta-se - "Bom dia!", no primeiro avistamento, "Até amanhã!", no que se supõe seja o último. Ora acontece que as caminhadas matinais ali no Parque da Cidade, antigos campos de Sá, são geralmente feitas em círculo, repetindo o circuito, ida e volta, três ou quatro vezes de uma ponta à outra, o que propicia repetidos reencontros entre a mesma gente que diz uma à outra "Bom dia!" e "Até amanhã!". E a gente tem horror a ficar calada quando se vê, e se já disse "Bom dia!" e ainda não é hora de dizer "Até amanhã!", e como acha que tem obrigação de dizer alguma coisa, então nos entretantos a gente diz "Tem de ser", como se "Tem de ser" fosse uma saudação intermédia entre o olá e o adeus. "Tem de ser", uma boa merda para se dizer seja a quem for como cumprimento, é o que me parece, mas se calhar eu é que estou errado.

domingo, 20 de abril de 2025

quarta-feira, 2 de abril de 2025

Diálogos fafenses 5

À hora ou há ora?
À hora ou há ora? - perguntou o professor, manhoso, como se os agás e os acentos, agudos ou graves, fossem visíveis nas conversas. - Há ora - respondeu o aluno, mais convencido era impossível. - Há ora?!... - exaltou-se o professor - Há ora?!?!... - ameaçou o professor, atabalhoando pontos de interrogação e de espantação e perdigotando reticências. - Há ora, mestre - perseverou o aluno, humilde porém seguro. - Há ora, mas e além disso...

domingo, 23 de março de 2025

O bom ladrão

Fafe, algures pelos finais da década de sessenta do século passado. Na sala de aula da agora desaparecida Escola da Feira Velha, no meio da parede, por cima do quadro negro, um Cristo crucificado. Carmona à direita da cruz, Salazar ironicamente à esquerda. Eu, que naquela altura já tinha umas luzes bíblicas, nunca percebi qual destes dois era o bom ladrão...

No meu tempo havia respeito

À mesa
Isto devia ser ensinado desde os bancos da escola: o telemóvel não faz parte do talher. O talher é composto por faca, garfo, colher e comando de televisão. Mais nada.

As crianças hoje em dia só aprendem porcarias. É a televisão, é o computador, é o telemóvel, são os jogos, as redes sociais, tudo e mais alguma coisa. Mas só aprendem tolérias, poucas-vergonhas. Não há educação, não há respeito, não há tabuada, não há catequese nem Mocidade Portuguesa. No meu tempo, em Fafe, era outra louça, vinho de outra pipa: jogávamos à macaca, ao moche, ao espeto e ao mamã-dá-licença, brincávamos ao esconde-esconde e aos médicos, íamos às uvas, matávamos pardais, afogávamos gatos, corríamos à coiada os cães e os moços das outras ruas, íamos para a porta do hospital ver chegar a ambulância, levávamos umas reguadas, rezávamos padre-nossos, cantávamos os reis de porta em porta, os mais velhos ensinavam-nos coisas bonitas, apresentáveis, lengalengas e versinhos didácticos, alguns até com música, para ficarem no ouvido, e ficaram. Lembro-me, por exemplo:

- Preta, mulata, nariz de batata, rouba galinhas e mete prà saca.
- Ruço de mau pêlo, quer casar, não tem cabelo.
- Viva quem tem pêlos na barriga, e quem os abaixo tem que viva também.
- Enganei-te, enganei-te, com uma pinga de leite, à porta da missa, a comer uma chouriça.
- Três vezes nove, vinte e sete, quem morreu foi o valete, enterrado na retrete.
- Indo eu, indo eu, a caminho de Viseu, encontrei um burro morto a cagar e a mijar prò primeiro que falar.
- Pipa nova, pipa velha, foi ao mar, não afogou, com licença, meus senhores, aqui está quem se cagou.
- O Manel e a Maria foram ambos passear, o Manel deu um peido e mandou a Maria ao ar.
- Vinho na pipa, couves na horta, se não nos der nada, cagamos na porta.
- Cagarim, cagarou-se, há dois modos de cagar, se o cagalhoto foi grosso, fica o cu o fumegar.
- Ó Mila, o teu pai tem pila; se não fosse a pila, não havia a Mila.
- Sanica o cu, sanica a gaita; sanica o cu e a serigaita.
- Afina a guitarra, a viola toca, afina a guitarra e também a piroca.
- Quem te fosse ao cu e não te pagasse.
- Sexta-feira, sexta-feira, tararam tararam, sexta-feira da paixão, tararam tararam, foram dar com os padres todos, tararam tararam, a ir ao cu ao sacristão. Tararam tararam. Eram sete matulões, tararam tararam, com bigodes no colhões. Tararam tararam. Pontapés e bofetadas, tararam tararam, nas parrecas das criadas. Tararam tararam.
- A puta da minha amiga não tinha que pôr na mesa, cortou as beiças da cona, fez cozido à portuguesa.

Isto, sim, é cultura. É tradição. Antigamente é que era. Era tudo muito bonito. Pérolas como as supracitadas, e há mais de onde estas vieram, deviam ser aprendidas pelos novos fafenses desde pequeninos, para que não se percam. Deviam ser reunidas em opúsculo editado pelo Município e distribuído gratuitamente no Posto de Turismo, na Casa da Cultura, na Biblioteca Municipal, nos cafés e tascos e em todos os outros balcões da especialidade, mas quê, a Câmara não quer saber...
Ai que saudades, rapaziada! No meu tempo havia respeito, instrução. Brincavam-se brincadeiras educativas, respeitosas e saudáveis. Quer-se dizer: brincava-se A Bem da Nação e conforme manda a Santa Madre Igreja.